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domingo, 9 de junho de 2013

Eu, aqui

Eu, aqui, de novo, no lugar que jurei nunca mais voltar. Eu, aqui, de novo, uma geladeira nova, um fogão novo, um cachorro velho e um lar. Novo, branco e lilás, feito pra mim, eu poderia jurar.  Quem dera as dobras das esquinas, os pontos de ônibus, as lojas, cafeterias e farmácias fossem novos também. Quem dera o meu olhar seletivo selecionasse as visões que a minha memória insiste em lembrar. Meu nariz reconhece os cheiros, os ares, tanto que minha respiração voltou a dar sinais de incompetência. Cada dia faço um novo caminho, na esperança de desbancar velhas lembranças e reconhecer no antigo, o novo que habita em mim. Tomo café da manhã, caminho por aí, desvirtuo a rotina que tinha, crio novas a todo nascer do dia, reflexo da vontade que tenho de fazer com que o meu mundo pertença somente a mim e não mais a nós. Aí, numa gélida noite de sábado, sozinha, com trabalho a fazer e uma geladeira que gela só pra mim eu me reinvento, me encontro e durmo. Santa inocência, enganar a si mesmo quando estamos acordados já é difícil, imagina só quando dormimos, quando estamos à mercê de nós mesmos, do nosso subconsciente e das nossas vontades. O sonho não engana, ele revela. Revela nossas vontades escondidas, guardadas, enterradas e submersas no universo de nós. Acordo e tudo não faz sentido, mais uma vez, pelo menos uma vez por mês.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

frase...

Embrulho as lágrimas e jogo no lixo, quem dera fazer o mesmo com um coração.


frase...

A LUA BRILHA IGUAL PRA NÓS DOIS.


[RE]VIVER

Quando eu comecei a (re)viver, te quis junto em cada suspiro.
Mas vai, corre o mundo. Conhece a vida. E depois volta pro meu lado. 
Me coloca nos eixos, me faz de gato e sapato.
Seja livre, seja leve, seja lindo.
Seja meu, sejamos nós(sos).

"Tempo de decolar"

Escrever no banheiro
Na madrugada fria
Com a luz que clareia
Mas não ameniza
Cigarro na pia
Coração na mão
Sono na boemia
Lágrimas pelo chão

Quão decadente isso pode parecer?
Quão decadente isso é?

Escrevo porque sufoco
Escrevo por agonia
Escrevo porque não posso
Aguentar outro raiar do dia

"Tempo de dar colo"



Um saudade
Que chega de repente
Invade o peito
Dilacera a gente
Em todos os cantos
Em todos os cacos
Um pouco de nós
Um pouco da sua presença ausente
A noite desce
E o escuro me diz
Nada é mais tão claro
Como um dia se quis
As paredes do meu quarto
Os sorrisos no meu rosto
São o esboço de um passado feliz
Eu não quero que volte
Um dia já o fiz
Eu quero que passes
Que mude
Que sumas
Não assim
Não das ruas
Mas de mim
Num passado presente
A gente era feliz
Seja feliz
Sejamos felizes, enfim.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Poeira de sete faces




Eu faço jornalismo, mas eu detesto os jornalistas. Como viver assim, nessa loucura dicotômica entre ser o que se repudia? Eu vivo. Mas, sinceramente, eu não entendo. Como aqueles jovens cheios de boas vontades chegam à universidade querendo mudar o mundo; e saem de lá se contentando em camuflar-se no mundo. Mundo mundo vasto mundo/se eu me chamasse Raimundo/seria uma rima, não seria uma solução. Raimundo, João, Maria, Ana... Tantos nomes, tanta gente, pouca ação.

Vejo nos olhos as vontades, as indignações e jovens revolucionários ostentando seus redondos e vermelhos narizes de palhaço. Ora pois, que orgulho eles vêem em ser palhaços do sistema, da mídia, da televisão? Pobres coelhinhos medíocres, cospem palavras sem sentido, sem razão. Veneram Che Guevara, mas não sabem nada de revolução.

Acordem! A maior mudança tem que acontecer de dentro pra fora. Não funciona? Muda! Não tá contente? Busca! Não te ouvem? Berra! Coração vazio pesa mais que bolso cheio. Mente recheada de obviedades rola mais que bola de feno. Sem rumo, sem nexo, sem sentido, sem razão. Ao sabor do vento, mas na mesma direção.

Mundo mundo vasto mundo/mais vasto é meu coração.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Ponto G

Gosto do gosto, do grito, de gol, de grama, do gozo, do gostoso, de gesto, de gemido, do guloso, de gato, de gnomo, do Guga, da gruta, de gelo, de gengiva, da gula, do grave, do groove, do grande, do gramado, do gentil, da garantia, da gastronomia, de garfo, de gaita, do Gandhi, de grana, de Galápagos, de groselha, de grilo, de gaudério, de guri, de gala, do gari, de guaraná, de glitter, da graça, de garça, de gay, de gorila, da guria, de gelada, do gourmet, da gola, de galã, da garrafa, do gim, da galera, de gringo, do gole, de garra, do giz, do guizo, de gris, de gelado, da glória, da Grécia, da gravidade, de gratidão, de gengibre, de gergelim, de grávida, de granulado, de gogó, da galáxia, do Gandalf, do grego, do Gólon, de guizado, de gambá, de gingado, do Godart, da Gal, do Gil, de gorro, do Guevara, de gênio, de gaveta, do giro, do Guanabara, de gaivota, do glúten, do gepeto, do Galileu, do Galilei, de girafa, de girassol, de gorgonzola, de guitarra, do Grêmio, do George, de gaúcho, de geleia, gostava, gostei, gosto, gostaria, da gente.

Não gosto de gaiola.

Rua do pôr-do-sol

O nosso ano não virou
Ainda nem começou
O show não rolou
O Heros furou
A banda molhou
A coruja gritou
A galera mergulhou
Mas o sol não chegou
Passarinho cantou
E o Chorão achou
A batida perfeita ressoou
E o canto do pássaro complicou
Vai dormir pássaro gritão!
O ano ainda nem começou
Volta pro teu colchão!
O Chorão já chorou
Mas maio ainda não chegou
A coca-cola a galera tomou
E no abril o clima se puxou
Bora correr na praia!
Bora mergulhar!
Mas pular as sete ondas
Só quando maio chegar
E vamos de branco estar
Esperando o primeiro sol raiar
Braços dados na beira do mar
Cada um sabendo se encontrar
Beijos e flores para Iemanjá
Meu caminho eu que vou traçar
Assim que maio chegar.

Fafá e Paula

Vamos? Fui!

Londres deve ser legal
Paris então, sensacional
E eu aqui
Querendo só sair por aí
Vamos até a esquina?
Depois até a praia
Não esquece a barraca
Bem que a gente podia
Pedir uma carona
Sem essa de perguntar pra onde
Vamos até enjoar
De correr
Nos campos espalhados por aí
De voar
Com os pássaros daqui
De nadar
Nas águas frias daí
Vambora!
A gente constrói uma torre de papel
A gente pinta no orelhão um arranha-céu
A gente se guia pelos nossos versos
Quem precisa de bússula
Quando carrega o mundo
Na ponta do lápis?
Pega um casaco
Desliga o celular
Esquece as chaves de casa
Vamos fazer do mundo um lar?
Um cachorro novo em cada lugar
Novas fotografias para revelar
Pausa
Pra te beijar.

Versus diversos

Tem uma duna nos meus sapatos - diz ela.
Te um mar nas minhas roupas - diz a outra.
- Vamos fazer uma praia lá em casa!
- Não vai dar certo.
- Então fazemos um verso.

Fafá e Paula

A falta que a falta faz


Não sei o que dizer, talvez por nunca termos tido essa necessidade de verbalizar. Mas sei o que sentir. E sinto. Sinto muito. Sinto por termos nos perdido nos olhares que tanto nos explicavam, por termos aprendido a lidar tão profundamente com pontos e vírgulas digitados; e ao mesmo tempo tão analfabetas sentimentalmente, emocionalmente, oralmente. Me fazem falta os mates madrugueiros repletos de sentido, cevados na nossa leveza juvenil, curtido na nossa energia sentimental e infantilmente crente no amanhã, que só por se fazer iminente, nos bastava. Nos bastávamos. Choro baixinho de saudade. Procuro nos cômodos do apartamento por lembranças daquele tempo, procuro por sinais do que fomos, busco um espaço nesse lugar que me foi tão familiar, e agora me parece tão distante de um lar.

Quero entender, consertar, decifrar e me encaixar nesse mundo psicodélico que eu ainda não me sinto metade. Quero poder falar o que sinto e ouvir o que tens pra me dizer, quero que tenhas o que me dizer e o digas. Em qualquer momento, em quaisquer das luas. Quero teu colo e os nossos ombros sempre amigos para absorver as lágrimas desse mundo estranho que nos rodeia e com o qual não sabemos lidar. Quero os planos, os sóis, as boas saudades, as boas músicas, os bons drinks e um bom futuro. Quero teu riso frouxo e feliz se encaixando nos meus dias cinzas. Quero te sorrir frouxo e feliz pra me encaixar nos teus dias cinzas.

E se não der pra ser de novo assim, se não puder ser agora, só quero que tenhas a certeza de que eu te amo, mesmo sem sentir o amargo daqueles mates, mesmo engolindo palavras que não tivemos tempo de dizer, mesmo estando confusas e sem ter um porquê. Te desejo paz e que os teus caminhos nunca se desviem das minhas estradas bipolares e que nunca nos aproximemos demais do tal círculo da noção.

O mundo ainda é nosso, preste atenção nos sinais, acredite e nunca vá embora. Promete?

Pucca Cucca Putta

- Ela vira a Pucca!
- Cuca?
- Pucca!
- Pucca?
- Pucca.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Agridoce

Arco-íris pintado à mão
Escorrendo entre nuvens de algodão

Mar de chocolate
Oscilando a maré conforme o vento bate

Chão de giz
Imaginando como a gente podia ter sido feliz

Entardecer cor-de-rosa
Descrevendo nosso amor em prosa

Um sofá do tamanho dos teus abraços
Onde fico admirando teus traços

Um sonho sonhado só
Faz lembrar que tudo vira pó

Te perco num minuto
Quando me encontro em absoluto

Me sei medo e solidão
Te sei todo e somente paixão

Queria poder não dizer adeus
E deixar que o dia morresse calmamente
Num dos beijos teus

Solitude



Não consigo entender essa fluidez de sentimento que inunda as pessoas, pelo menos a maioria delas. Aquela eterna necessidade de possuir alguém como se fosse um souvenir, não entendo as infinitas e inúteis explicações, se apenas em um olhar o mundo se explica por si só. Pelo menos deveria. São tantos cacos de sentimentos aglomerados dentro de nós, tantas idas e vindas, chegadas e dolorosas partidas, quando apenas ficar faria todo o sentido. Bastava um abraço, um papo no sol, bastava uma risada perdida no meio da briga, os olhos nos olhos e a saudade de não se sentirem durante o dia. Bastava o bom-dia e o beijo com cheiro de sono, bastava o boa noite entre corpos entrelaçados nos dias de frio, pensando bem, nos de calor também. Bastavam-se, mas nunca é o suficiente. Tantos filmes, tantos livros, tantas músicas, tanto mundo pra mim e pra você. Escolhemos apenas não conhecer. Escolhe-se não conhecer todos os dias, quando caminhamos em frente olhando pra trás sem saber conviver com a ausência, sem saber-se num sentir sem fim, sentindo falta de uma verdade que nem sabe se conheceu. Tudo que se perdeu no meio do caminho, levou junto um pouco de mim. Enquanto eu fui tropeço pra alguns, outros foram tempestade em mim.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

O próximo inverno



Chegou
Mas não parecia estar ali
Chegou de novo
Eu quis que ficasse
Fugiu
Eu não entendi a partida
Voltou
Eu sorri
Sorrimos
Vivemos
Duvidamos
Combinamos
Esquecemos
Nos beijamos
Nos abraçamos
Não quero mais que nos soltemos
Fica
Fiquemos
Ficamos
“Só pra esperar o sol”
Seguimos
Sem rumo
Juntos
Ontem
Hoje
Até quando?
Até saber
Saber o quê? 
Tá bom sentir asssim
Basta 
Desacostumei
A que?
"A olhar nesses olhos sem sentir que são meus"

Sucré


Eu não comia, você sabia e me trazia chocolates. Eu não dormia, você sabia e me ligava apaixonado. Eu chorava, você sabia e aparecia só ouvidos. Eu sentia frio, você sabia e me aquecia. Eu queria o mundo, você buscava pedaços e me trazia. Eu queria fugir, você sabia e ia junto. Eu resmungava, brigava, reclamava e te batia, você sabia os meus porquês e sorria.
Você sabe, sempre soube e sempre saberá tudo de mim. Sabe a hora de calar e de me abraçar. Sabe de cor as sardas que pintam o meu corpo. Sabe exatamente o que dizer. Sabe da minha alma, bonita e feia. Sabe todos os meus sorrisos e caretas. Sabe minhas dúvidas e medos. Se sabe em mim. Você me reconhece e eu me reconheço em ti. Pelo menos há dez anos, desde quando nos (re)conhecemos, até o fim. O fim que a vida irá impor, pois não sabemos dizer adeus, seguiremos em frente sendo sempre nós, espíritos livres e entrelaçados. Corações chorosos e apaixonados. Você sou eu e eu sou você.
Não há ponto final, não há distância para tanto sentir.

As verdades que cuspimos, são as mesmas que não sabemos ouvir


Vim de braços abertos e coração na mão, tentei te entregar e você recusou. Comprei geleia para adoçar nossa manhã, você reclamou. Muito doce, disse resmungando. O que seria desse amargo que nos rodeia se não fosse o açúcar que se empilha nas mercearias, pensei sorrindo. O vento que me levou até lá ainda soprava notas musicais pelas ruas, eu queria que ele me deixasse ali, o dia não tinha sido assim tão fácil. O dia tinha sido daqueles em que sentimos vontade de correr pro colo da mãe e ganhar aquele milagroso cafuné, acompanhado de perguntas doces sobre como foi o dia, como anda a vida, como vai o coração e como bônus um café amargo e afagos quentinhos. Faz frio, ele chega de mansinho e só permite que as amarguras da vida venham em forma de goles de café. Será que um dia eu vou conseguir te ensinar isso? Tirar o açúcar do café e usar na vida? Tenta, eu insisto. Ouve, eu quase grito. Se não a mim, teu coração. Mas não distorce o que ele quer te dizer, acredito que sejam coisas boas, faça transbordar, faça refletir.
Saí dali por não conseguir conviver com aquele silêncio que julga, julga minhas ideias, ideais, corpo e mente. Saí dali por ouvir tuas verdades e não conseguir fazer com que ouvisses as minhas. As verdades que cuspimos, são as mesmas que não sabemos ouvir. Ouça, eu insisto. E perco, peco, falho tentando te ensinar. O que há de tão errado em tropeçar? Nada. Eu não quero perdê-los pelos meus caminhos tortos, só aceito que eles me acrescentem. Pessoas, histórias, amores, amigos, vocês. Eu não sou assim, tão ruim, tão distante, tão o contrário de mim como dizem. Eu apenas sou o que sou e tento ser o melhor de mim. Me ouve, me conhece. Me observa, me aceita. Não insisto nem que me entenda, mas exijo que saiba, eu te amo, assim como amo o que me faz bem, os que me fazem bem, me faça bem e aceite que eu retribua.
Quando eu saí daí você disse que amo uns e uso outros. Estranho para mim justamente por sentir que amo mais do que deveria e uso menos do que poderia, na verdade não uso, acho feio, desprezível e baixo. Não sou assim. Por favor entenda, por favor não minta para mim sobre meus próprios sentimentos, eu costumo acreditar e me culpar pela imagem distorcida que tens de mim. Não, não estão todos errados e apenas eu estou certa. Não, ninguém está certo, muito menos errado. Estamos (sobre)vivendo, buscando, somando. Errar é apenas um suspiro iminente da vida. Erre. Por mim, por ti, por nós. Mas tente não errar assim, tão profundamente, comigo. Talvez por saber que eu perdoo seja mais fácil não medir as palavras. Palavras. Eu as respeito, mais do que deveria, menos do que poderia. Por isso pondere-as, meus fantasmas muitas vezes vem de mãos dadas com elas, não me presenteie com mais, afaste-os de mim. Se eu pudesse roubaria os teus, em troca te daria um jardim. Faça isso por mim.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

A chuva que te trás

A fumaça do meu cigarro desenha teu rosto
A cerveja que bebo me trás o teu gosto
A ansiedade do não saber me leva ao teu encontro
A saudade dos teus olhos
A necessidade das tuas mãos
A espera da campainha que não toca

Na confusão dos meus sentimentos que se enrolam em ti
Que chamam por ti
E ao mesmo tempo te afastam de mim
Penso, repenso, sinto, vivo
Vivo os meus fantasmas, os teus, os nossos

Chove, e eu vim seguindo os pingos
Esperando te encontrar
Quem precisa de pote de ouro
No final do arco-íris
Quando existe a possibilidade de te beijar?

Devolve, moço

Esconde essas dúvidas
Essa saudade
Guarda na tua gaveta de meias
Junto dos sentimentos furados
Que já não nos cabem mais

Esconde a tua descrença do sol
Aprende com ele a ir e voltar
Aceita que eu vou
E que um dia desses
De novo vou chegar

Esconde de mim tua ausência
Tuas palavras
Guarda no teu coração
Junto das verdades que me escondeu
Aquelas que cada vez machucam mais

Esconde teus frágeis amores da luz do dia
Desfila à noite, ao breu, com tuas aventuras
Aceita que não é um novo amor quem muda as coisas
Aceita que não sabe amar
Talvez assim...
Ele consiga te abandonar.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Free love


Seis dias e cinco noites de vida.
Gosto de paz, sombra amiga.
Escuto o som do violão.
Enquanto cantamos juntos mais uma canção.
Que "fale de não sei o que".
Ideias, ideais, razões.
Conflito de mentes aflitas.
Seus corações desacreditados insistem em acreditar.
E por que amar?
Pois senão não há vida.
E se eu amei e não amar nunca mais?
Se ama para sempre.
E nunca se deixa de amar completamente.
Se ama um gesto.
Uma rosa amarela de tinta.
Se ama a chuva no frio.
Um cuidado a mais e um bombom vazio.
Se ama cada nova sarda.
E marca de sol.
Se ama cada passo para frente, lados, costas.
E também se amam as pausas.
Pouse.
Pause e pouse.
Pouse sobre mim.
E não vá embora.
Pelo menos não enquanto eu não disser que sim.

segunda-feira, 18 de março de 2013

"Para amar, é preciso ser vulnerável."



É por saber que se chora


Quando você apareceu toda a minha bagunça se organizou em gavetas catalogadas. Todos os meus monstros saíram do armário e foram parar na nossa cama em formato de aconchegantes almofadas, distribuíram-se nas paredes, porta-retratos e murais em formato de fotografias dos nossos melhores momentos, mudaram de cidade junto conosco e nos ajudaram, amigavelmente, a mobiliar nosso primeiro apartamento. Você travestiu meus maiores medos com fantasias de felicidade, histórias de amor e para sempres que duraram até que eu me desse conta que mesmo  em novo formato, você apenas os escondeu de mim, mas nunca, de fato, os afastou de mim.

Quando você foi embora, fez questão de levar consigo somente as fantasias, deixando o que mais me assustava ali, bem à vista, a espreita. Além daqueles que sempre tive, me presenteou com medos novinhos em folha, porque você sempre soube, eu sempre mostrei - e dei - tudo de mim. Você sabia desde besteiras como o quanto chicletes enormes e coloridos me fazem bem até o quanto as pessoas me fazem mal; e eu te dei desde o meu primeiro sorriso do dia - por mais que eu não quisesse sorrir -, até a minha infinita carência noturna, aquela que expõe o melhor e o pior de mim, eu compartilhei minha alma, transparente, despretensiosa, ingênua, suja, rancorosa, amável e amante. E recebi em troca todas as mentiras que eu acreditei serem verdades, recebi em troca, como quando ligamos o chuveiro e a primeira água a cair é gelada e arrepiante, o tempo, sem a opção de controlar sua temperatura e torná-la mais amena, aceitável, sequer menos dolorida. 
E eu chorei. Chorei nossa falsa perfeição, chorei sua ausência que levou embora o seu sorriso, seus livros, sua poeira e nossas histórias, chorei nossa necessidade, mas chorei principalmente o estrago que eu lhe permiti fazer aqui, muito maior do que gavetas e monstros, muito pior que um coração partido, eu chorei por não te conhecer e não mais me reconhecer em ti. Eu chorei por não me permitir reconhecer em mais ninguém, chorei sua ausência em todos os cantos de mim, chorei a saudade dos planos, chorei a falta de tê-lo em meus planos, chorei meus desejos e crendices tolas perdidos ao longo de nós, chorei por não saber se te colo uma etiqueta de passado feliz ou presente triste, chorei por saber a imensidão de meus infinitos cravejados da sua presença e por não saber até quando você se fará, assim, tão presente. Chorei por não conseguir apenas te catalogar como passado e esconder na gaveta mais profunda de mim, sem que ninguém tenha acesso, não mais, nem mesmo eu. Choro por saber que um dia eu simplesmente vou acordar e você vai ter ido embora de vez, de mim, dos nossos lençóis e do meu futuro.
O problema é que quando você foi embora, as gavetas viraram montes de lixo, os nomes nas etiquetas ficaram apagados, minha bagunça se fez maior, multiplicou-se por mil e você não está aqui para me ajudar a colocar tudo de volta no seu devido lugar, mesmo assim eu ainda lhe busco em meio a lembranças e sapatos espalhados pelo chão. 

terça-feira, 5 de março de 2013

ASSHOLE



"Smile for the camera sweetheart. I really wanna immortalize the moment." 

In trash.

It's like you told me would be
It's nothing, nothing, nothing
Nothing at all
I was (almost) right about us from the beginning. 
I'm a vindictive cow, truth be told. 
And you showed an perfect asshole. 
Is part of your "manly essence" and lack of personality, admit it.

So fucking cordial.
Sickly sweet smile.
The best false words...
For the worst fake feelings.

Just remember the first step in forgetting...
Is destroying all the evidence.
With friends like you,
Who needs subtext?
Is not it?

Ah! Just one more thing.
You fall deeper in your favourite cliché, Mr. motherfucker.
And I really don't care.
Because you're just an asshole!

Always was and always will be.
Never forget that...
Will not, because you so sure how much I.
Have a nice life!

This was my better love letter.
Thanks for that, asshole.

Paula Moran  Março/2013

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

meet me in montauk

Era assim que eu me sentia quando estávamos juntos, insone. Você sempre dormia tranquilo na escuridão inóspita do quarto. Enquanto eu, enfiando o nariz no seu pescoço entre o travesseiro, o seu cheiro e sua orelha, me aconchegava na grossura daquela barba desgrenhada que eu tanto gostava e te abraçava confusa sobre o que fazer com o meu amor, nunca sobre te amar; muitas vezes o fiz até amanhecer. Comumente desejava um cigarro para acalmar meu coração inquieto, ou planejava movimentos e barulhos acidentalmente propositais para que você acordasse - na maioria das vezes os dois - e ficasse um pouco mais comigo. Eu sentia tantas saudades das nossas madrugadas juntos, eu sentia tantas saudades nossas. Eu sentia todos os dias, até nos mais difíceis, mas você não sabe. Assim como você nunca acordava e nem eu fumava, assim como você não sabe de tantas outras coisas que eu queria que você soubesse. Ao invés disso, pela iminência daquela solidão compartilhada, passei a me tornar íntima dos barulhos madrugueiros no condomínio onde morávamos. Mais do que o normal, admito, mais do que apreciava até. Eu sabia, inclusive, alguns horários costumeiros dos vizinhos pontuais. Virei, praticamente, uma amarga e precoce senhora fofoqueira. Aquelas que ficam, simpaticamente, debruçadas nas janelas, ao lado das violetas floridas e bem cuidadas, emanando cheiro de bolo - o qual nunca nos oferecerão, mas sempre desejaremos - e sabem o nosso nome completo, idade, número do cpf, histórico de desgraças familiares, inclusive, e outras coisas que você nem imagina. A diferença é que eu fazia minha "ronda" à noite, sem bolo, sem flores e sem janela, muito menos simpatia e quase que por descuido, já elas, senhorinhas desavergonhadas que são, a fazem em plena luz do dia, por prazer, ócio ou também pela tal da saudade, - sempre ela, afinal. Saudade, talvez, de uma vida que passou rápido demais e agora parece tão menos interessante perante as possibilidades infindas proliferando diariamente daquelas vidas que habitam um condomínio e insistem em perambular em frente às janelas curiosas, levando consigo, bem ali debaixo do braço, os seus causos mirabolantes.
Eu me perguntava, curiosa que sou, se rendíamos boas histórias. Se éramos um casal instigante para os padrões de qualidade das velhinhas ociosas. Será que elas ainda falam sobre nós? Eu falo.

Paula Moran  Fevereiro/2013

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Pretérito perfeito

Vamos fugir? [ Vamos viver do comércio barato de poemas de amor? ] Eu juro que sobrevivo com uma mala pequena, com o Bono incomodando e contigo me amando. Eu viveria bem assim, sim! E quando tudo ficar ruim, quando der saudade até mesmo do que fazia mal, sempre vai ter o nosso mate pra amargar o passado e encorajar pro futuro. Eu quero viver do nosso bem, do teu cheiro de café, do meu dom de ser totalmente sem dom e perfeita pra ti, da tua cara amassada de manhã, das nossas conversas sérias no escuro, das nossas divagações sobre o futuro. Futuro! A gente já tem um todo programadinho, só falta um pontapé… Longe, muito longe e sempre perto, muito perto de ti. Kitnet ou casarão, de madeira ou cimento, pré-fabricada, nova, velha, rosa, verde, azul, marfim! Nosso cantinho, com nosso cheirinho, eu quero isso pra mim!

"Talvez tudo, talvez nada - nada."


Paula Moran  Abril/2010

Se Puder Sem Medo


❝ ❞
Deixa em cima desta mesa a foto que eu gostava
Pr'eu pensar que o teu sorriso envelheceu comigo
Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha
Pra que eu fotografe assim meu verdadeiro abrigo
Deixa a luz do quarto acesa a porta entreaberta
O lençol amarrotado mesmo que vazio
Deixa a toalha na mesa e a comida pronta
Só na minha voz não mexa eu mesmo silencio
Deixa o coração falar o que eu calei um dia
Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo
Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia
Deixa tudo como está e se puder, sem medo
Deixa tudo que lembrar eu finjo que esqueço
Deixa e quando não voltar eu finjo que não importa
Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito
Pra dizer te vendo ir fechando atrás da porta
Deixa o que não for urgente que eu ainda preciso
Deixa o meu olhar doente pousado na mesa
Deixa ali teu endereço qualquer coisa aviso
Deixa o que fingiu levar mas deixou de surpresa
Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo
Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande
Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo
Se o adeus demora a dor no coração se expande
Deixa o disco na vitrola pr'eu pensar que é festa
Deixa a gaveta trancada pr'eu não ver tua ausência
Deixa a minha insanidade é tudo que me resta
Deixa eu por à prova toda minha resistência
Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro
Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila
Deixa pendurada a calça de brim desbotado
Que como esse nosso amor ao menor vento oscila
Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa
Deixa um último recado na casa vizinha
Deixa de sofisma e vamos ao que interessa
Deixa a dor que eu lhe causei agora é toda minha
Deixa tudo que eu não disse mas você sabia
Deixa o que você calou e eu tanto precisava
Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia
Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava

Oswaldo Montenegro

Sweet popcorn

Espero, sinceramente, que você esteja feliz. Que tenha recuperado aquele brilho nos olhos pelos quais me apaixonei. Espero que os seus dias façam algum sentido sem mim, nem que seja por um pequeno instante, nem que seja por um detalhe, que seja, enfim, pelos detalhes. Desejo, de coração, que eu tenha lhe ensinado a apreciar pequenas coisas e torná-las grandes. Espero que esse novo alguém, que um dia foi meu, que eu tanto quis que fosse assim, seja verdadeiramente o que você é. Porque dentre as tantas coisas que aprendi contigo, a segunda mais importante foi que por mais que a gente tente ser outra pessoa, só seremos verdadeiramente felizes e faremos os outros felizes sendo, apenas, nós mesmos. Puros e simples nas nossas loucuras, defeitos, virtudes, medos e desejos. Por fim, desejo que ponhas em prática a primeira coisa mais importante que me ensinou, o amor, a amar. Eu quero que você ame, queria poder dizer que fosse a mim, queria sentir que fosse a mim, apesar de tudo. No entanto, eu só desejo que você se ame, e quando esse amor transbordar que você não tenha medo ou receio de compartilhar. O mundo pode ser teu, assim como um dia foi nosso.

Paula Moran  Janeiro/2013

Illusion ou réalité?

Você passa anos de sua vida descontando seus desprazeres no cartão de crédito, jura que precisa daquela saia inútil, brilhando no corpo da manequim mais esguia, na vitrine da boutique mais cara, cujo preço material você tem vergonha de revelar, mas acredita que espiritualmente ela vale cada centavinho e que cumprirá perfeitamente bem, aliás, melhor que qualquer analista especializado no ramo de loucuras inventadas, o papel de resolver seus problemas. Quais problemas mesmo? Você ganha muitos pontos no quesito culinária cozinhando e aprimorando sua especialidade gastronômica: brigadeiro de panela. Aquele que você come sozinha, enrolada num edredom cheiroso, afundada no sofá em meio a almofadas fofas e sempre queima o céu da boca, a língua e todas as outras partes nomeáveis da abertura anterior do seu tubo digestivo, enquanto devora, com a delicadeza de uma onça faminta que encontrou uma família de gazelas desavisadas, toda a sua maravilha açucarada, diretamente na panela, óbvio. Confesse, você conta nos dedos de uma mão as vezes que ou tirou o brigadeiro da panela ou esperou o dito cujo esfriar. Se tiver sorte você consegue chegar em algum número a partir dessa reflexão. Quer saber? Não reflita. Você também já deve ter gasto muitas horas úteis da sua vida, sim, porque cada segundo do seu dia é útil. Você poderia estar estudando sobre fotografia, aprendendo um novo idioma, salvando um siri do triste fim que é morrer sufocando na beira da praia, quando o mar está logo ali atrás, mas não, você prefere ver uma comédia romântica, eu digo uma, mas eu sei que você empilha umas quinhentas em frente à televisão. Por favor, aprenda, de uma vez por todas, eu não vou repetir, pois irão dizer que sou amarga: comédias românticas só nos ensinam que se aprendermos algo com elas, seremos infelizes, burras e supérfluas. Aquilo não é vida minha gente, aquilo não é real! Até porque, eu duvido muito que, mesmo sendo um Ashton Kutcher da vida, você iria querer um desses caras sou eu de “Um amor para recordar” colado no seu pé e, convenhamos, nesse filme, ela morre no final! Eles são feitos para chorarmos, qualquer história de amor é linda quando esse amor não tem nem a possibilidade de amadurecer. Eu assisto, admito, sou mulherzinha, sejam mulherzinhas, mas antes disso, lembrem-se de serem mulheres, na imperfeição maldita e bela que desfilamos na nossa dicotômica alegria e luta diária entre chapinha e rabo de cavalo, TPM e bom humor, príncipe encantado e cafajeste, camiseta branca e pretinho básico. Falando em realidade, e retomando a ideia sobre onde descontamos nossas frustrações, o carnaval me fez pensar em quantas mulheres não passam o ano todo esperando a tal data para soltar a franga, galinha, perua, chester, seja lá o que tenham dentro de si – eu hein?! – aí chega a tal data purpurinada em que tudo é supostamente permitido e usado como pretexto para enlouquecer, esvaziar o cérebro, a alma e entupir o corpo de germes de pessoas desconhecidas, ok, nada contra, juro. Não, não juro! Vamos fazer uma pausa e refletir sobre aquela saia, a conta do cartão de crédito vai chegar no final do mês, os quilinhos a mais oriundos do seu delírio mestre cuca irão aparecer na balança, as horas perdidas chorando inutilmente por histórias que nem são suas, farão falta no futuro e, amanhã, quando você acordar e não for mais carnaval, as ruas vazias e os confetes caídos dos seus bolsos te lembrarão que essa é só mais uma conta a pagar e mais um problema que você não tinha e foi lá correndo buscar. Será que a sua vida não é boa demais e você só não aprendeu a merecer?

Paula Moran  Janeiro/2013

Persona non grata



Grita comigo, puxa meu cabelo, me chama de horrorosa, pisa nos meus calos, diz que eu sou insuportável, me chinga, fuma meus cigarros, toma minha cerveja, invade meu espaço, fica anos com meus livros, denigre a imagem dos meus cantores preferidos, esculacha o meu estilo, joga uma barata em mim, me despeja ordens, põe açúcar no meu café, interrompe meu sono, quebra as minhas coisas, rabisca meus cadernos, me obriga a tomar mate lavado, desdenha dos meus gostos, eu aguento, juro, mas não venha me julgar ou dizer quem eu sou. Porque isso talvez seja - isso é - uma das únicas coisas que eu tenha certeza na vida, sobre mim, sou eu quem sabe, mais ninguém.
Seja delicado, seja gentil. E quando não tiver nada de melhor pra fazer nessa sua vidinha ~ supercool ~, já que a sua criatividade limitada não permite nada mais atrativo, já que seus infinitos amigos estão sempre tão ocupados, sua abrangente cultura já visitou todos os cantos do conhecimento universal e uma hora até as besteiras do facebook não te aturam mais e se negam a ser compartilhadas, vai analisar seu umbigo, ele não deve servir só durante os nove meses de gestação ou para botar piercing. Talvez se você pudesse liberar um espaço da sua massa cinzenta, que parece estar ocupada desvendando meu modo de ser, perdão, tendo certeza sobre o meu modo de ser, você pudesse aprender um pouco sobre essência, acho que essa parte do conhecimento humano você deixou escapar. 
Me desculpe, sinceramente, se pareci ousada. Deve ser carência, já que sou digna de pena e não tenho nada melhor para fazer da vida. Eu queria te mandar longe, mas como sou previsível, eu escrevi um texto idiota.
Beijo, não me liga, não me analisa, não me cuida, não se importe, eu fico melhor assim e eu sempre acerto, pelo menos isso você tem que admitir e essa deve ser a pior parte, né? Mas não se preocupe, quando precisar eu estarei aqui, como sempre. Porque você vai. Não é praga, é vida que chama! E ela tá te chamando faz anos.

Paula Moran Fevereiro/2013

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Entregue-se!


Sempre gostei de comemorar a virada do ano, ao contrário do que possam pensar os que me conhecem, também já gostei de comemorar o Natal e tenho esperanças, lá no fundinho, bem escondidas, guardadas, sufocadas – como queiram – de que um dia ainda hei de descobrir uma nova forma de gostar outra vez. Enfim, voltando ao tal do Reveillón, ele é um danadinho, não é mesmo? Vem nos envolvendo de mansinho, geralmente com champagne, mesa de frutas e amanhecer na praia, sem falar no papo cheio de ideias ilusórias de que daqui pra frente tudo pode mudar, tudo vai mudar, aquelas historinhas que a gente adora ouvir e fingir acreditar, ele é praticamente a personificação de um cara! O Natal é sagrado [chato], o Ano Novo é depravado e cafajeste [excitante]. Não vim perder meu tempo escrevendo sobre sorte ou desejos para 2013, muito menos dizer que amo meio mundo até porque não tenho tanto amor assim para ficar gastando, embora eu ame, e muito, mas poucos, talvez por isso esteja quase me afogando em “melosidade” neste final de ano e escrevendo mais do que o normal. O que eu vim, afinal, dizer foi inspirado na música “Entregue-se”, da Tiê. Conhecem? Pois deveriam! Enfim, aproveitem a maldita mania de usar a desculpa do novo ano, como se passar de um número para outro apagasse os 365 outros que ficaram lá atrás e façam realmente algo de útil, sugestões: não façam listas, são ABSOLUTAMENTE INÚTEIS - tirando as de viagem - simplifiquem a vida, não só a tua, mas a das pessoas ao teu redor, energia boa contagia, ruim contamina, seja um ser contagiante ou mantenha-se distante de mim, crie coragem, não sei de onde irão tirar, não sei, nem faço questão de saber como [embora o que eu saiba bem sabido é que tequila ajuda, ou vergonha na cara mesmo], mas criem IMEDIATAMENTE a tal, tenham almofadas fofas, um bom sofá, seus filmes preferidos sempre à mão, gastem grana com viagens, cartão existe pra isso, sejam sinceros consigo mesmo e com os outros, eu sei que às vezes não adianta nada ser sincero com os outros, mas arrisquem, melhor que saibam que tu odeias, que tu amas, que tu queres, que tu não queres, do que teres de passar uma vida interpretando sem ao menos alimentar a pretensão de seguir na carreira teatral, não julguem, desde o cachorro que mordeu o mandinho [que podia ser chato pra dedéu e estar  puxando suas orelhas], muito menos alguma coisa ou alguém que tu não conheças, meus caros, anotem essa, aprendi mordendo a língua. Eu poderia escrever por horas, ninguém leria; e eu também não me importaria, o importante mesmo é que peguem o espírito da “coisa”. Sabe? Menos desculpas esfarrapadas, menos adiar o que se quer, mais vida, mais agora. Entreguem-se aos pequenos detalhes que tornam os dias felizes, e não deixem que eles percam o efeito, quase alucinógeno e lícito - comemorem! – que causam nas nossas segundas preguiçosas. Não deixem de sorrir quando aquela música especial tocar, seja onde for, seja com quem for, não desaprendam a singela e refinada arte de conquistar novas amizades e muito menos esqueçam de cultivar cuidadosamente e carinhosamente as antigas, não magoe quem te ama, mas antes disso, não se magoem, não deixem de dar bom dia, segurar a porta, agradecer, abraçar, vejam o sol nascer sempre que possível, vejam o sol se pôr sempre que possível, pensem sim no futuro, mas não enlouqueçam por ele, vai chegar e acontecer de qualquer forma, melhor estarmos de bom humor, façam uma loucura de vez em [sempre] quando, acendam um [dois, três, quatro] incenso – defumem a casa, fotografem com filme e obriguem-se a revelar, surpreendam-se, ouçam o seu próprio silêncio e ouçam a voz dos outros, olhem nos olhos, achem um cantinho perfeito num sofá gigante, fabrique memórias dignas de ocupar sua massa cinzenta e pule as sete ondas com a convicção de que viver é muito mais fácil do que sobreviver. Tentem e, quando por descuido, assim, ao soprar do vento ou com aquele cheiro bom de chuva notarem que estão felizes por nada e perceberem que esse nada vale tudo nem precisam vir me agradecer.

“Entregue-se àquilo que te faz sentir!”

Paula Moran  Dezembro/2012

É carnaval. . .


...[ dentro de nós ]

Vão-se os amores da noite pro dia, deixando apenas aquela infinita amargura verborrágica entre casais que gastavam os sóis, invadiam as madrugadas e esqueciam-se do mundo – que não fosse o pintado por eles -, apenas para orbitarem em torno do silêncio, aquele conhecido vazio sonoro repleto de sentido. E sabe o motivo de tudo isso ser assim, feito um script, como é? De o tal do amor que descrevem, pintam e bordam por aí ter começo lindo, meio turbulento e final iminente? Simples, não é amor. Saber o que é aí sim pode ser bem complicado, não por não se ter opções e sim por existirem muitas delas. Amor se explica por si só, digo isso porque ele não precisa fazer sentido para nenhum dos lados, e de fato não o faz, ele não exige contratos, ele rasga os rótulos e dispensa medíocres atualizações no facebook. Ele pode chegar no auge do inverno em meio aos resmungos gelados entre goles quentes de café, e chega, mas ele não vai embora com a brisa luxuriosa do verão, logo ao passar do primeiro Arlequim no carnaval, Pierrot [amor] que é Pierrot [amor] preserva sua (seu) Colombina [amor].

Paula Moran  Janeiro/2013