Eu, aqui, de novo, no lugar que jurei nunca mais voltar. Eu,
aqui, de novo, uma geladeira nova, um fogão novo, um cachorro velho e um lar. Novo,
branco e lilás, feito pra mim, eu poderia jurar. Quem dera as dobras das esquinas, os pontos de
ônibus, as lojas, cafeterias e farmácias fossem novos também. Quem dera o meu
olhar seletivo selecionasse as visões que a minha memória insiste em lembrar.
Meu nariz reconhece os cheiros, os ares, tanto que minha respiração voltou a
dar sinais de incompetência. Cada dia faço um novo caminho, na esperança de
desbancar velhas lembranças e reconhecer no antigo, o novo que habita em mim.
Tomo café da manhã, caminho por aí, desvirtuo a rotina que tinha, crio novas a
todo nascer do dia, reflexo da vontade que tenho de fazer com que o meu mundo
pertença somente a mim e não mais a nós. Aí, numa gélida noite de sábado,
sozinha, com trabalho a fazer e uma geladeira que gela só pra mim eu me reinvento,
me encontro e durmo. Santa inocência, enganar a si mesmo quando estamos
acordados já é difícil, imagina só quando dormimos, quando estamos à mercê de
nós mesmos, do nosso subconsciente e das nossas vontades. O sonho não engana,
ele revela. Revela nossas vontades escondidas, guardadas, enterradas e submersas
no universo de nós. Acordo e tudo não faz sentido, mais uma vez, pelo menos uma
vez por mês.
"Acordo e tudo não faz sentido, mais uma vez, pelo menos uma vez por mês."
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