Sempre gostei de comemorar a virada do ano, ao contrário do
que possam pensar os que me conhecem, também já gostei de comemorar o Natal e
tenho esperanças, lá no fundinho, bem escondidas, guardadas, sufocadas – como
queiram – de que um dia ainda hei de descobrir uma nova forma de gostar outra
vez. Enfim, voltando ao tal do Reveillón, ele é um danadinho, não é mesmo? Vem
nos envolvendo de mansinho, geralmente com champagne, mesa de frutas e
amanhecer na praia, sem falar no papo cheio de ideias ilusórias de que daqui
pra frente tudo pode mudar, tudo vai mudar, aquelas historinhas que a gente
adora ouvir e fingir acreditar, ele é praticamente a personificação de um cara!
O Natal é sagrado [chato], o Ano Novo é depravado e cafajeste [excitante]. Não
vim perder meu tempo escrevendo sobre sorte ou desejos para 2013, muito menos
dizer que amo meio mundo até porque não tenho tanto amor assim para ficar
gastando, embora eu ame, e muito, mas poucos, talvez por isso esteja quase me
afogando em “melosidade” neste final de ano e escrevendo mais do que o normal.
O que eu vim, afinal, dizer foi inspirado na música “Entregue-se”, da Tiê.
Conhecem? Pois deveriam! Enfim, aproveitem a maldita mania de usar a desculpa
do novo ano, como se passar de um número para outro apagasse os 365 outros que
ficaram lá atrás e façam realmente algo de útil, sugestões: não façam listas,
são ABSOLUTAMENTE INÚTEIS - tirando as de viagem - simplifiquem a vida, não só
a tua, mas a das pessoas ao teu redor, energia boa contagia, ruim contamina,
seja um ser contagiante ou mantenha-se distante de mim, crie coragem, não sei
de onde irão tirar, não sei, nem faço questão de saber como [embora o que eu
saiba bem sabido é que tequila ajuda, ou vergonha na cara mesmo], mas criem
IMEDIATAMENTE a tal, tenham almofadas fofas, um bom sofá, seus filmes
preferidos sempre à mão, gastem grana com viagens, cartão existe pra isso,
sejam sinceros consigo mesmo e com os outros, eu sei que às vezes não adianta
nada ser sincero com os outros, mas arrisquem, melhor que saibam que tu odeias,
que tu amas, que tu queres, que tu não queres, do que teres de passar uma vida
interpretando sem ao menos alimentar a pretensão de seguir na carreira teatral,
não julguem, desde o cachorro que mordeu o mandinho [que podia ser chato pra
dedéu e estar puxando suas orelhas],
muito menos alguma coisa ou alguém que tu não conheças, meus caros, anotem
essa, aprendi mordendo a língua. Eu poderia escrever por horas, ninguém leria;
e eu também não me importaria, o importante mesmo é que peguem o espírito da
“coisa”. Sabe? Menos desculpas esfarrapadas, menos adiar o que se quer, mais
vida, mais agora. Entreguem-se aos pequenos detalhes que tornam os dias felizes,
e não deixem que eles percam o efeito, quase alucinógeno e lícito - comemorem! –
que causam nas nossas segundas preguiçosas. Não deixem de sorrir quando aquela
música especial tocar, seja onde for, seja com quem for, não desaprendam a singela
e refinada arte de conquistar novas amizades e muito menos esqueçam de cultivar
cuidadosamente e carinhosamente as antigas, não magoe quem te ama, mas antes
disso, não se magoem, não deixem de dar bom dia, segurar a porta, agradecer,
abraçar, vejam o sol nascer sempre que possível, vejam o sol se pôr sempre que
possível, pensem sim no futuro, mas não enlouqueçam por ele, vai chegar e
acontecer de qualquer forma, melhor estarmos de bom humor, façam uma loucura de
vez em [sempre] quando, acendam um [dois, três, quatro] incenso – defumem a
casa, fotografem com filme e obriguem-se a revelar, surpreendam-se, ouçam o seu
próprio silêncio e ouçam a voz dos outros, olhem nos olhos, achem um cantinho
perfeito num sofá gigante, fabrique memórias dignas de ocupar sua massa
cinzenta e pule as sete ondas com a convicção de que viver é muito mais fácil
do que sobreviver. Tentem e, quando por descuido, assim, ao soprar do vento ou
com aquele cheiro bom de chuva notarem que estão felizes por nada e perceberem
que esse nada vale tudo nem precisam vir me agradecer.
“Entregue-se àquilo que te faz sentir!”
Paula Moran ♥ Dezembro/2012
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