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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Entregue-se!


Sempre gostei de comemorar a virada do ano, ao contrário do que possam pensar os que me conhecem, também já gostei de comemorar o Natal e tenho esperanças, lá no fundinho, bem escondidas, guardadas, sufocadas – como queiram – de que um dia ainda hei de descobrir uma nova forma de gostar outra vez. Enfim, voltando ao tal do Reveillón, ele é um danadinho, não é mesmo? Vem nos envolvendo de mansinho, geralmente com champagne, mesa de frutas e amanhecer na praia, sem falar no papo cheio de ideias ilusórias de que daqui pra frente tudo pode mudar, tudo vai mudar, aquelas historinhas que a gente adora ouvir e fingir acreditar, ele é praticamente a personificação de um cara! O Natal é sagrado [chato], o Ano Novo é depravado e cafajeste [excitante]. Não vim perder meu tempo escrevendo sobre sorte ou desejos para 2013, muito menos dizer que amo meio mundo até porque não tenho tanto amor assim para ficar gastando, embora eu ame, e muito, mas poucos, talvez por isso esteja quase me afogando em “melosidade” neste final de ano e escrevendo mais do que o normal. O que eu vim, afinal, dizer foi inspirado na música “Entregue-se”, da Tiê. Conhecem? Pois deveriam! Enfim, aproveitem a maldita mania de usar a desculpa do novo ano, como se passar de um número para outro apagasse os 365 outros que ficaram lá atrás e façam realmente algo de útil, sugestões: não façam listas, são ABSOLUTAMENTE INÚTEIS - tirando as de viagem - simplifiquem a vida, não só a tua, mas a das pessoas ao teu redor, energia boa contagia, ruim contamina, seja um ser contagiante ou mantenha-se distante de mim, crie coragem, não sei de onde irão tirar, não sei, nem faço questão de saber como [embora o que eu saiba bem sabido é que tequila ajuda, ou vergonha na cara mesmo], mas criem IMEDIATAMENTE a tal, tenham almofadas fofas, um bom sofá, seus filmes preferidos sempre à mão, gastem grana com viagens, cartão existe pra isso, sejam sinceros consigo mesmo e com os outros, eu sei que às vezes não adianta nada ser sincero com os outros, mas arrisquem, melhor que saibam que tu odeias, que tu amas, que tu queres, que tu não queres, do que teres de passar uma vida interpretando sem ao menos alimentar a pretensão de seguir na carreira teatral, não julguem, desde o cachorro que mordeu o mandinho [que podia ser chato pra dedéu e estar  puxando suas orelhas], muito menos alguma coisa ou alguém que tu não conheças, meus caros, anotem essa, aprendi mordendo a língua. Eu poderia escrever por horas, ninguém leria; e eu também não me importaria, o importante mesmo é que peguem o espírito da “coisa”. Sabe? Menos desculpas esfarrapadas, menos adiar o que se quer, mais vida, mais agora. Entreguem-se aos pequenos detalhes que tornam os dias felizes, e não deixem que eles percam o efeito, quase alucinógeno e lícito - comemorem! – que causam nas nossas segundas preguiçosas. Não deixem de sorrir quando aquela música especial tocar, seja onde for, seja com quem for, não desaprendam a singela e refinada arte de conquistar novas amizades e muito menos esqueçam de cultivar cuidadosamente e carinhosamente as antigas, não magoe quem te ama, mas antes disso, não se magoem, não deixem de dar bom dia, segurar a porta, agradecer, abraçar, vejam o sol nascer sempre que possível, vejam o sol se pôr sempre que possível, pensem sim no futuro, mas não enlouqueçam por ele, vai chegar e acontecer de qualquer forma, melhor estarmos de bom humor, façam uma loucura de vez em [sempre] quando, acendam um [dois, três, quatro] incenso – defumem a casa, fotografem com filme e obriguem-se a revelar, surpreendam-se, ouçam o seu próprio silêncio e ouçam a voz dos outros, olhem nos olhos, achem um cantinho perfeito num sofá gigante, fabrique memórias dignas de ocupar sua massa cinzenta e pule as sete ondas com a convicção de que viver é muito mais fácil do que sobreviver. Tentem e, quando por descuido, assim, ao soprar do vento ou com aquele cheiro bom de chuva notarem que estão felizes por nada e perceberem que esse nada vale tudo nem precisam vir me agradecer.

“Entregue-se àquilo que te faz sentir!”

Paula Moran  Dezembro/2012

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