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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Illusion ou réalité?

Você passa anos de sua vida descontando seus desprazeres no cartão de crédito, jura que precisa daquela saia inútil, brilhando no corpo da manequim mais esguia, na vitrine da boutique mais cara, cujo preço material você tem vergonha de revelar, mas acredita que espiritualmente ela vale cada centavinho e que cumprirá perfeitamente bem, aliás, melhor que qualquer analista especializado no ramo de loucuras inventadas, o papel de resolver seus problemas. Quais problemas mesmo? Você ganha muitos pontos no quesito culinária cozinhando e aprimorando sua especialidade gastronômica: brigadeiro de panela. Aquele que você come sozinha, enrolada num edredom cheiroso, afundada no sofá em meio a almofadas fofas e sempre queima o céu da boca, a língua e todas as outras partes nomeáveis da abertura anterior do seu tubo digestivo, enquanto devora, com a delicadeza de uma onça faminta que encontrou uma família de gazelas desavisadas, toda a sua maravilha açucarada, diretamente na panela, óbvio. Confesse, você conta nos dedos de uma mão as vezes que ou tirou o brigadeiro da panela ou esperou o dito cujo esfriar. Se tiver sorte você consegue chegar em algum número a partir dessa reflexão. Quer saber? Não reflita. Você também já deve ter gasto muitas horas úteis da sua vida, sim, porque cada segundo do seu dia é útil. Você poderia estar estudando sobre fotografia, aprendendo um novo idioma, salvando um siri do triste fim que é morrer sufocando na beira da praia, quando o mar está logo ali atrás, mas não, você prefere ver uma comédia romântica, eu digo uma, mas eu sei que você empilha umas quinhentas em frente à televisão. Por favor, aprenda, de uma vez por todas, eu não vou repetir, pois irão dizer que sou amarga: comédias românticas só nos ensinam que se aprendermos algo com elas, seremos infelizes, burras e supérfluas. Aquilo não é vida minha gente, aquilo não é real! Até porque, eu duvido muito que, mesmo sendo um Ashton Kutcher da vida, você iria querer um desses caras sou eu de “Um amor para recordar” colado no seu pé e, convenhamos, nesse filme, ela morre no final! Eles são feitos para chorarmos, qualquer história de amor é linda quando esse amor não tem nem a possibilidade de amadurecer. Eu assisto, admito, sou mulherzinha, sejam mulherzinhas, mas antes disso, lembrem-se de serem mulheres, na imperfeição maldita e bela que desfilamos na nossa dicotômica alegria e luta diária entre chapinha e rabo de cavalo, TPM e bom humor, príncipe encantado e cafajeste, camiseta branca e pretinho básico. Falando em realidade, e retomando a ideia sobre onde descontamos nossas frustrações, o carnaval me fez pensar em quantas mulheres não passam o ano todo esperando a tal data para soltar a franga, galinha, perua, chester, seja lá o que tenham dentro de si – eu hein?! – aí chega a tal data purpurinada em que tudo é supostamente permitido e usado como pretexto para enlouquecer, esvaziar o cérebro, a alma e entupir o corpo de germes de pessoas desconhecidas, ok, nada contra, juro. Não, não juro! Vamos fazer uma pausa e refletir sobre aquela saia, a conta do cartão de crédito vai chegar no final do mês, os quilinhos a mais oriundos do seu delírio mestre cuca irão aparecer na balança, as horas perdidas chorando inutilmente por histórias que nem são suas, farão falta no futuro e, amanhã, quando você acordar e não for mais carnaval, as ruas vazias e os confetes caídos dos seus bolsos te lembrarão que essa é só mais uma conta a pagar e mais um problema que você não tinha e foi lá correndo buscar. Será que a sua vida não é boa demais e você só não aprendeu a merecer?

Paula Moran  Janeiro/2013

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